Sinopse
Vários diagnósticos têm sido sugeridos para a(s) doença(s) de Vincent, e numerosos são os trabalhos dedicados a essa temática. Obviamente que a fiabilidade da maioria dos hipotéticos diagnósticos, formulados a posteriori, é questionável: vários têm sido produzidos por críticos de arte e por vultos da literatura, que não por médicos, sendo por vezes evidente a formulação de interpretações clínicas incorrectas e efabulatórias, acrescidas de manifesta carência da necessária contextualização epidemiológica. Assim, enquanto médico infecciologista, procuraremos fazer aqui um diagnóstico que supomos plausível, escudado em am-bas as vertentes: clínica e epidemiológica.
Questão relevante para a interpretação do acervo da pintura de Vincent van Gogh dos últimos anos da sua precária existência: no ‘pseudotumor cerebri’ ocorrem, o mais das vezes, perturbações da visão, permanentes ou recorrentes. De notar que Vincent queixou-se várias vezes de problemas nos olhos.
Finalmente, analisaremos as pinturas de van Gogh sob a óptica da possível existência de uma neuroborreliose de Lyme com ‘pseudotumor cerebri’. As perturbações oftalmológicas – designadamente o edema da papila – poderiam explicar a necessidade de Vincent de utilizar uma intensidade cromática ‘excessiva’ para que ele próprio conseguisse aperceber-se das cores que desejava imprimir à sua pintura.
