O Horizonte Trabalhista de António Sérgio

A condição do trabalhador moderno está intimamente ligada à existência da máquina e à ultrapassagem da barreira orgânica, não sendo mais a máquina um simples prolongamento das nossas capacidades motoras. O mundo da produção é um mundo cujo design muito deve à ciência e à tecnologia, e hoje ao complexo tecnocientífico cujo emaranhamento é único (em boa parte devido às suas íntimas relações com o Mercado, com o Capital e o seu imperativo).

Este emaranhamento, cheio de conflitos e contradições, foi denunciado por Sérgio, constantemente preocupado com as mutações das formas de opressão, que tinham na nova organização do trabalho (taylorização) mais uma possibilidade de criação de desigualdades, agora por dominação pela classe burocrática dos organizadores da produção. O pendor prático do filosofar de Sérgio sempre favoreceu a preocupação com os factores materiais e tecnológicos, e por isso Sérgio afirmou que a aplicação judiciosa da ciência e da tecnologia podia levar à construção de uma era de abundância para todos e de paz, pois a cuidadosa planificação da economia permitiria às nações viver na sua casa, e permitiria a co-habitação do trabalho de produção e do ócio criativo, do despontar de um Reino dos Fins ou de Cristo entre nós.